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Chic'Ana

“Não posso mudar a direção do vento, mas posso ajustar as minhas velas para chegar sempre ao meu destino” by Jimmy Dean

Chic'Ana

“Não posso mudar a direção do vento, mas posso ajustar as minhas velas para chegar sempre ao meu destino” by Jimmy Dean

Pedrógão Grande – Uma homenagem aos heróis invisíveis

Um testemunho de quem viveu e vive o terror de muito perto, uma nova visão contada pela primeira pessoa, uma pessoa que me é querida: 

Mal se deu a tragédia, as equipas de intervenção formaram um centro de operações e controlo para repor tudo o que é considerado prioritário. Ainda se choram os mortos, ainda se questiona como é possível que tal tenha acontecido, mas a vida não pára e existem pessoas que não podem continuar sem infraestruturas básicas: eletricidade, comunicações, água, entre outras..

 

Olho em redor e parece que estou dentro de um espetáculo: pivots e jornalistas correm de um lado para o outro tentando obter os melhores ângulos de transmissão, voluntários correm a distribuir comida pelas pessoas que aqui se encontram. O fogo ainda deflagra no terreno, os bombeiros tentam a todo o custo suster as chamas, mas nós, nós temos de intervir e começar a instalar cabos num terreno que parece o inferno.

 

O ar é irrespirável, é incrível como se sente o calor, parece que a qualquer momento pode existir um reacendimento com um simples estalar de dedos. Passamos as fitas amarelas, os locais de isolamento por onde ainda poucos se aventuraram. Poderia ser uma descoberta, poderia ser uma bonita caminhada, mas olhando em redor, é um rasto de destruição que nos faz lacrimejar. Custa sentir a presença de vida nestes locais, custa avistar alguns pertences que por ali ficaram esquecidos ou acabaram consumidos pelo fogo.

Temos de fazer o nosso trabalho, embora o desejo seja estar bem longe dali. Numa valeta nas proximidades detetamos dois corpos, dois corpos caídos, que ainda não foram recolhidos ou sequer identificados. É uma imagem que nos arrepia e que nos revolve o estômago… Aprendemos que lidar com a morte não é simples, fácil, nunca será.

 

Há 4 dias, 4 dias que fazemos este trabalho, há 4 dias que a situação não melhora, há 4 dias que não é mais fácil, há 4 dias que o sofrimento não acalma, há 4 dias que não sabemos o que é dormir sem pesadelos. 

 

Um testemunho de um técnico no local, de uma pessoa que não tem qualquer preparação para lidar com este cenário. Um testemunho de alguém que não tem qualquer laço afetivo com a região, mas que mesmo assim luta diariamente para conseguir dar algum conforto aos sobreviventes, a quem ficou..

 

Estes são os nossos heróis invisíveis e que tantas vezes são esquecidos. As pessoas querem e exigem rapidamente a reposição das melhores condições, o que é mais que compreensível, mas esquecem-se que estas demoram horas e dias até o serem na totalidade, e não é por falta de empenho, é mesmo porque o cenário é demasiado terrível para tornar possível esta celeridade pretendida.

 

Mais um dia que passou, e mais um dia de trabalho que foi destruído pelas chamas que mudaram de direção…

Coragem! Coragem e força para todos os que continuam no terreno, que não baixam os braços, que continuam a lutar por todos nós!

 

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Que seja feito um balanço, que consigamos melhorar, que sejamos pró-ativos ao invés de reativos!

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Já é conhecida a vencedora do passatempo "Uma Passagem para Sempre". Parabéns Nicole, se vires a notificação primeiro, envia-me um e-mail com os teus dados. De qualquer das formas entrarei em contacto.

 

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