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Chic'Ana

“Não posso mudar a direção do vento, mas posso ajustar as minhas velas para chegar sempre ao meu destino” by Jimmy Dean

Chic'Ana

“Não posso mudar a direção do vento, mas posso ajustar as minhas velas para chegar sempre ao meu destino” by Jimmy Dean

One smile a day... com o Robinson Kanes

O meu convidado de hoje é o Robinson Kanes, autor do blog Não é que não houvesse... Este é um blog que desperta logo no meu pensamento a palavra aprendizagem, mas uma aprendizagem de forma divertida. O autor expõe os seus pensamentos, o seu dia-a-dia, histórias e pontos de vista, mas sempre com uma perspetiva de abrir horizontes, de fomentar o debate, a quem os lê. Fundamenta tudo em que opina, o que lhe confere uma riqueza invejável.

É um blog que se tem construído pouquinho a pouquinho, um blog sem destino ou alinhamento, todos os dias é uma constante surpresa, mas uma boa surpresa. Uma lufada de ar fresco que tenho a certeza que será apreciada por todos. Informação e diversão juntos é possível? Sim, é.. e aqui está um belo exemplar disso mesmo!

 

Quando recebi o email da Chic’Ana pensei por momentos que poderia ser do New York Times, no entanto, ainda foi melhor que isso, até porque o New York Times às vezes consegue ser bastante aborrecido.  E é assim que aqui vim parar, pelo que, preparem-se para mais um momento de absoluta estupidez da minha parte.
Recordo-me de Istambul, uma cidade onde tive oportunidade de viver cerca de um mês, se é que se pode chamar “viver” a estar um mês num país ou cidade.
 
Posto isto, uma das imagens de marca de Istambul são os vendedores que não sossegam enquanto não nos impingem qualquer coisa. Eu, ao contrário de muitos estrangeiros que já estiveram no país, adoro aquela negociação e a educação com que encerram a mesma, sobretudo quando a venda nem se concretiza. Finalmente percebi porque é que todos os guias de viagem turcos têm sempre a tradução de "deixe-me em paz".
 
Uma noite, aproveitei para relaxar na companhia da minha miúda, uma celta fascinada por tudo o que é turco, (sobretudo a comida e as pessoas) árabe e muçulmano e demos um passeio por Sultanahmet, a zona histórica da cidade.  Istambul em Dezembro é uma cidade mais tranquila, pelo que apanhei com todos os vendedores de tapetes e carpetes e consegui, só num raio de 200 metros,  guardar quatro contactos de telemóvel para o caso de eventualmente mudar de ideias e optar por adquirir os famosos tapetes otomanos.
 
Quando cruzávamos uma rua lateral à Hagia Sophia (Basílica de Santa Sofia), uma daquelas com vários restaurantes para turistas e por sinal até bastante agradáveis, eis que sou confrontado com um angariador de restaurantes, aqueles que estão à porta do restaurante e convidam os clientes a entrar, ou como neste caso, saem disparados do restaurante acompanhados de duas senhoras.
 
Percebendo o que daí vinha, mesmo antes que o angariador pudesse dizer alguma palavra vociferei algo numa misturada de turco e inglês:
 
- Boa noite, o restaurante é muito agradável, mas nós almoçámos tarde e ainda não temos fome. O peixe por acaso até tem bom aspecto, eu também sou de terra de peixe, do mediterrâneo ocidental, de Portugal, sei apreciar o que é bom, a nossa costa e o mar dos Açores têm um peixe maravilhoso. Adoro comida turca e vou voltar aqui, quase com toda a certeza. Obrigado.
 
O que vou dizer a seguir só sei que aconteceu porque a minha miúda estava atenta e num misto de riso e gozo, apreciou o angariador,  enquanto eu falava, a olhar para mim com ar de espanto e com os olhos esbugalhados que terminaram com um semblante de quem estava a passar por uma tremenda “seca”.
 
Terminadas as minhas palavras, eis que o angariador se vira para mim e num inglês quase perfeito, mas com forte sotaque turco de Anatólia e com uma postura de Danny DeVito, até porque era baixo e forte, me diz:
 
- Hey! Então mas tu chegas aqui, ficas com esse sorriso na cara, escreves a música, tocas e danças (enquanto começa a dançar em estilo grego ou otomano, confesso que não me foquei nesse pormenor), fazes a festa enquanto eu fico a olhar para ti! Então mas afinal quem é que está a vender? Deixas-me fazer o meu trabalho ou não? Até parece que tu é que estás a tentar vender-me alguma coisa!
 
Perante a minha estupefacção, as senhoras que o acompanhavam começam numa gargalhada monumental! A minha miúda, aproveitando a oportunidade para “molhar a sopa”, desata também à gargalhada e claro, aquele turco com um sentido de humor “Devitiano” também.
 
Confesso que fiquei apanhado pelo momento e só o abraço do turco me fez soltar uma gargalhada também! Depois daquele abraço e de um aperto de mão lá combinei que iria voltar no dia seguinte e, como sempre, acabei por fazer mais um amigo naquela cidade que Pamuk tão bem descreve e que é, para mim, uma porta de entrada num mundo que me apaixona!
 
O que eu me fartei de rir ao imaginar esta situação. Não é fácil dar a volta a vendedores, mas mais difícil ainda é "roubar-lhes" o papel!
Muito obrigada por esta bela partilha.
 

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Já concorreram ao passatempo delicioso? Aproveitem o fim de semana para o fazer =)