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Chic'Ana

“Não posso mudar a direção do vento, mas posso ajustar as minhas velas para chegar sempre ao meu destino” by Jimmy Dean

Chic'Ana

“Não posso mudar a direção do vento, mas posso ajustar as minhas velas para chegar sempre ao meu destino” by Jimmy Dean

One Smile a Day com.. o Lápis Roído

O meu convidado desta semana é o Lápis Roído, autor do blog Contra Chatos não há medicamentos. Ora, vou tentar ter uma atitude imparcial e apresentá-lo da melhor forma possível, mas o que dizer de uma pessoa que se assume como: "Esquizofrénico diagnosticado: um lado sério, outro tarado. Termómetro avariado: um lado fogo, outro gelado."? Fácil, é uma das pessoas com quem tenho mais empatia por estas andanças. O blog retrata a sociedade atual com muito humor, abarcando também uma componente mais pessoal. É paragem obrigatória, especialmente quando quero sorrir, pois é impossível sair deste espaço sem o fazer. Podemos "brincar" com coisas sérias, podemos tecer a nossa opinião - visitem que não vos será indiferente.

Sim, bem sei que o texto é longo, mas vale bem a pena, garanto que irá despertar um sorriso em cada frase.

 

Bem, em primeiro lugar, devo deixar já aqui bem expressa a seguinte opinião: estava a ver que não, Chic’ Ana! Já me tinha perguntado não sei quantas vezes o porquê de ainda não ter sido convidado para aqui botar palavra. Não havia explicação possível para que tal ainda não tivesse acontecido se atentarmos ao facto de já te ter oferecido a quantia necessária para poderes passar o resto da vida a estrelar ao sol das Bahamas, um presunto de Chaves e um saco de caramelos. Convém referir que os caramelos são para arredondar o valor da oferta, como n’O Preço Certo. Só vejo programas de nível intelectual superior, como podes constatar.

 

Em segundo lugar, acho que tens aqui uma bela casita. Mudava a cor das paredes, mas pronto. Verde não é uma cor muito bonita, na minha opinião. Também mudava os cortinados, mas pronto. Cornucópias não fazem o meu género. Também punha uma janela na casa-de-banho, mas pronto. Por causa da humidade e dos maus cheiros. Já agora, já trocavas os tapetes de Arraiolos, mas pronto. Estão a ficar desfiados nas pontas e dão mau aspecto à casa. Tirando tudo isto, tens uma bonita habitação, não haja dúvida.

 

Em terceiro lugar… O que é que vem em terceiro lugar? Ah, caraças! O que é que eu vim fazer aqui? De onde sou? Quem sou eu? Hã? A Maria Leal? Não sei de quem se trata. Sendo assim, vou indo. Adeus e bom dia. O quê?! Um episódio caricato? Ah, é para isso, sim! Isso é difícil, sabes? É difícil porque sou um modelo híbrido resultante da fusão de um eremita enfiado numa caverna com uma múmia da Jordânia ou lá o que é… Nunca fui grande espingarda a História e Geografia de Portugal. Diz?! Ah, sim, tens razão. Daqui a pouco são horas de almoço e nós ainda nisto. Vamos lá então.

 

Vivo numa aldeia pequena do distrito de Lisboa. Bem podem esquadrinhar mapas que nunca vão saber de qual se trata, cambada de stalkers! Bom, ultrapassado que está este momento de tensão inicial e que revela o meu bom feitio, prossigamos sem mais demoras. Até ao início deste século, a minha terrinha mostrou-se sempre muito dinâmica por culpa do trabalho que era desenvolvido pelos dirigentes do clube local. Actividades culturais, lúdicas e desportivas eram frequentes, o que mantinha os meus conterrâneos (dos rapazitos com ranho ao canto da boca aos velhos jarretas de boina e camisa de flanela) muito interessados e empenhados nelas.

Era eu um adolescente quando uma das mentes brilhantes cá do sítio (podem ter a certeza que o seu cérebro deve ser alvo de estudo aprofundado depois de ir desta para melhor, num cantinho que Deus Nosso Senhor já lhe reservou) se lembrou de criar um torneio que englobasse várias actividades de diversas áreas, no qual fossem promovidos o bem-estar, o saudável convívio entre participantes e a competição desportiva e intelectual. Neste torneio estavam incluídas modalidades tão distintas como o futsal, o karting, o bowling, os quizz’s, a pesca, o dominó, a fotografia, a sueca, o pool, o basquetebol ou o strip poker, o que revela o quão ecléctico e interessante conseguia ser este torneio. Bom, uma destas não constava do programa. Descubram qual, se vos apetecer.

Ora eu, que sempre fui menino de meter o nariz em tudo o que mexesse, à la “Emplastro”, não podia ficar de fora deste magnífico evento à escala. Rural, vá. Formei uma equipa com um grupo de amigos e lá fomos nós disputar a novel competição que tanto entusiasmo estava a criar nas hostes locais. Numa bela manhã primaveril de 2001 ou 2002 (maldito sejas, Alzheimer!), foi disputada uma prova de orientação a contar para o calendário competitivo. O local escolhido para que esta se desenrolasse nas melhores condições foi o Parque Natural de Monsanto. Um cenário idílico, sem dúvida… para o desenvolvimento de provas de perícia nocturnas… uh… intensas, digamos assim. Intensas e praticadas nos bancos de trás de automóveis. E que, muitas delas, produziram resultados visíveis aos olhos de obstetras nove meses depois de terem sido levadas à prática… Ok, já chega. Too much information. Continuemos com a narrativa e foquemo-nos no essencial.

A coisa era de alto nível, digo-vos. Os check-points estavam bem camuflados (quase tão bem escondidos como o Pedro Dias), muito distanciados uns dos outros (o que obrigava a longas correrias de um ponto para o seguinte) e os mapas bem detalhados. Ou quase…

Eu estava incumbido das missões de analisar o mapa, descortinar nele as representações gráficas dos sucessivos check-points e relacioná-las com os locais por onde estávamos a passar. A coisa não estava a correr mal até à altura em que se tornou demasiado difícil encontrar um dos pontos assinalados no mapa. Eu, concentradíssimo na minha tarefa e na certeza que seguia na direcção certa, optei por um caminho diferente daquele que escolheram os meus companheiros de equipa, ainda que isso se tenha verificado de forma involuntária. Sabem aquele momento em que estamos tão concentrados numa coisa que nos abstraímos de tudo o resto? Aquela sensação estúpida que pode cair um Airbus A330 a dois metros de nós que não damos conta? Foi o que me sucedeu. Entrei em modo sonâmbulo-escuteiro, os olhos pregados no desgraçado do mapa, as pernas a moverem-se como se tivessem vida própria e a boca a reproduzir a frase “esta porcaria tem de estar aqui!” em loop. Os olhos mantiveram-se pregados no mapa, as pernas continuaram a mover-se sozinhas e a frase tipo disco riscado a ser dita até que…

O chão desapareceu.

Foi essa a sensação que tive durante uma fracção de segundo, o tempo que levou a enfiar-me num buraco tão grande (não tenho raça de pigmeu, para que conste) que só permitiu que a minha cabeça ficasse à vista de quem estava fora dele. O resto da população mundial, portanto. Meio atónito e aparvalhado, olho para baixo para averiguar o que raio tinha eu debaixo dos pés. Bosta, queriam vocês. Confessem, vá! Pois lixaram-se! Era uma daquelas manilhas de cimento usadas para canalizar as águas provenientes do raio que as danasse! Aquele buraco não devia estar ali naquele domingo de manhã e a organização da prova devia tê-lo desenhado no mapa mesmo que ele nunca tivesse estado no local correspondente. Quer isto dizer que as culpas têm de ser atribuídas a toda a gente. Com excepção da minha própria pessoa, claro, que estava em estado de concentração comatosa.

Se a situação em si já era suficientemente estúpida, pior ficou com a chegada dos meus amigos ao sítio da cratera. Tinham voltado para trás, alertados pelo estrondoso som que a minha queda provocou, somente batida em decibéis pelo carrilhão do Convento de Mafra. Num misto de verdadeira incredulidade e falsa preocupação, um deles proferiu uma frase tão profunda que me vi, mais tarde, na obrigação de a tatuar na testa:

- Epá! Caíste!

Ora caí! Não caí nada, pá! Vocês foram para aí todos lampeiros à procura do coiso e, nos entretantos, um gajo que estava ali escondido atrás de uma moita chamou-me e disse-me: «Ó menino, dou-lhe 10.000 euros para a mão se se enfiar ali naquele buraco para verificar se a manilha está bem colocada. O que é que me diz?» E eu vim, ora! Não fazias o mesmo?

Não respondi desta forma, claro. Fui bem mais educado e optei por um «ajuda-me a sair daqui, meu urso! Vê lá se te orientas!»

 

Moral da história: mais vale um pássaro na mão do que dois a voar. Não perceberam a ligação? Eu faço-vos um desenho… num mapa de Monsanto.

 

Chic’ Ana, as últimas palavras são para ti: espero que apanhes um valente escaldão no nariz lá nas Bahamas. Um agradecimento? Isso era se eu fosse um rapaz com orientação, que é coisa que as 4234 linhas acima escritas provam que não sou com toda a clareza. Mas como até estou bem disposto no dia de hoje, um obrigadinho, pronto. 

Muito obrigada por esta participação, conseguiste ser fiel a ti próprio, manter a linha que tão bem te caracteriza a ti e ao teu blog e, acredita, que li e reli o texto sempre com um enorme sorriso.

Recordei-me de uma bd já utilizada há muito tempo e que se enquadra na perfeição.

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E quanto a vocês, já se inscreveram no passatempo? Termina já segunda-feira! 

Boa sorte!