Hoje de manhã, quando ia a descer a rua, deparei-me com um senhor que transportava uma grande caixa e lembrei-me logo de um episódio da há alguns anos atrás.
Quando a minha irmã entrou em medicina, ficámos todos delirantes, e eu, como ótima irmã que sou, decidi que lhe iria oferecer o primeiro esqueleto! Pois é, poderia ter pensado em algo mais simples, como outras pessoas: agenda, cadernos, livros, mas não! Eu queria mesmo um esqueleto, pois todos os médicos que se prezem deveriam ter um no gabinete (vá-se lá perceber os meus pensamentos).
Assim foi, comecei a minha procura por um esqueleto e consegui encontrar um negócio bastante tentador: não, não era humano, nem um negócio ilegal de venda de corpos. O preço era bastante acessível, pois tratava-se de uma professora de ortopedia que o tinha adquirido somente para uma palestra e que mo podia entregar no metro.
Pedi-lhe para vir já montado, dado que não teria a certeza absoluta de o conseguir fazer, e ela acedeu, uma vez que cabia dentro da caixa. A única peça que viria separada era o suporte. Disse-me que era leve, e que apesar da caixa ser grande se transportava relativamente bem.
Brilhante, melhor não poderia ser. Tirando dois pormenores: eu não tinha carro, e do metro até casa ainda tinha de caminhar um bom bocado. Conclusão: ia a subir a rua, a caixa começa a desfazer-se, o cartão já antigo, começa a dar de si, e o pobre do esqueleto começa a sair lentamente. As pessoas em redor param, olham, ninguém me pergunta se queria ajuda e começam a afastar-se apressadamente!
Dou por mim, sozinha, no meio da rua, com um esqueleto de 1.80m a sair da caixa! Começo a pensar como poderia fazer o resto do caminho, afinal, não o queria estragar ao puxar pelo empedrado.
Dou uma série de voltas ao esqueleto, deito fumo por todo o lado, a rogar umas quantas pragas, até que se faz luz: "porque não abraçar o esqueleto e seguir assim até casa? Não pode ser tão estranho como eu imagino, certo?"
.. Uma coisa vos asseguro: foi uma entrada em casa de forma diferente e muito estranha, sim! Qual Halloween, qual carapuça! Se querem sensações estranhas, comprem um esqueleto!
Esta parte eu ainda pensei em omitir...
Mãe: (após assistir à minha entrada em casa de forma triunfal) Ana, eu já estava em casa, porque não me telefonaste para te ajudar e dar boleia?
Chic' Ana: Era uma surpresa!
Mãe: E continuava a ser, para a tua irmã! Certo?
... Certo, nem sequer me lembrei de telefonar a pedir ajuda!Mas a surpresa correu às mil maravilhas e aquele sorriso do primeiro esqueleto há-de ficar para sempre guardado...